Image Map

Quando Délia percebeu estava com o celular na mão pronto para discar o número de Leonardo. Não havia sentido algum no que ela iria fazer e ela sabia disso, só não tinha coragem de desapontar o olhar encorajador da sua avó que lhe dizia o tempo todo: "ligue para ele, parece ser um bom moço". O que era verdade, Leonardo era um bom moço apesar do jeito meio rabugento que tinha as vezes. Poderia não ser exatamente o tipo de Délia, mas também não era de se jogar fora. O que não fazia sentindo era ela ficar pensando se ele fazia ou não o seu tipo, isso estava totalmente fora de questão. Leonardo era a pessoa que ela havia emprestado seu velho exemplar de "Um Conto De Natal". Apenas isso.
Se bem que vendo por esse lado, aparentemente ela também não fazia seu tipo e isso lhe aborrecia um pouco. Como ela sabia disso? Leonardo havia adicionado-a como amiga no Facebook. Como é esperado, ela ficou dando uns cliques no perfil do rapaz. Cliques o suficiente para ver algumas fotos dele com mulheres loiras. Meninas cabelo cor de chocolate realmente não faziam o tipo dele, não que ela de fato se importasse por que, como ela já havia dito para a avó milhares de vezes,  rapazes loiros não chamavam sua atenção. 
Délia voltou a encarar o celular. Ela iria ligar para ele, não iria? Nem que fosse para não desapontar sua avó. Será que ela queria mesmo ver ele? Será que a distância não estava sendo algo generoso? Aliás, quando ele atendesse o telefone o que ela diria? Depois do clássico 'Alô', é claro. Na cabeça de sua vó tudo era tão mais simples, não havia padrões sociais a serem seguidos ou sentimentos envolvidos. Sentimentos como vergonha ou medo de se passar por louca, só para esclarecer antes que pensem absurdos.
-Vó, será que eu realmente devo fazer isso?
-Se eu tivesse sua idade, não pensaria duas vezes antes de fazer.
-Vó, vou parecer uma maluca.
-Se ele não te achou maluca quando quis emprestar um livro a ele só por que o viu no ônibus, não será agora que ele achará.
-Vó!
-Mas é verdade. Délia querida, ligue logo ou ligo eu.
-A senhora não faria isso. 
-Não duvide de mim - e ela percebeu pelo olhar assertivo que sua avó lhe enviava que ela não estava brincando e que ela ligaria se precisasse. E com certeza Délia não queria passar tal vergonha. Respirou fundo e apertou o botão verde do aparelho celular: esperou. Chamou uma, duas, três, cinco, seis vezes e foi para a caixa postal. Ufa! Ela não teria que falar com ele e sua avó teria que se conformar. Mas será que ele estava evitando ela? E sim por que? 
-Pois é vó, mais tarde eu tento de novo. 
-Tente agora, oras! Ele pode não ter tido tempo de atender.


-Vó, mais tarde. Eu não quero parecer mais maluca do que naturalmente posso parecer - E nisso a música natalina que havia escolhido como toque estava tocando enchendo o ambiente. Olhou na tela e sentiu a barriga gelar: era ele. 
-Atende, atende! - exclamava a boa velhinha. Vendo que não tinha como desapontá-la, atendeu o telefone em um tom casual:
-Alô?
-Oi, sou eu. Leonardo. Vi que você ligou agora pouco e desculpa não ter atendido, não conseguia achar o celular aqui na minha mesa - risos.
-Ah, sem problemas.
-Então, você queria conversar?
-Talvez. Um pouco. Isso se não estiver atrapalhando você. - "O que ele está dizendo?" "O que ele está dizendo?" a avó perguntava. 
-Claro que não Délia. Aliás, você tem cara de quem gosta de fazer compras de natal.
-Claro que eu gosto de fazer compras de natal. 
-Então vamos fazer o seguinte: amanhã por que a gente não se encontra na rodoviária no mesmo horário e no mesmo lugar que nos encontramos quarta, vamos até o shopping, fazemos as compras e comemos alguma coisa para acabar bem a noite? - Ele estava mesmo chamando ela para sair?
-Tem milhares de shoppings nessa cidade Leonardo.
-Ah não se preocupe com isso. Conheço o shopping perfeito, é um pouco longe dali mas não precisa se preocupar em como vai voltar para casa tarde por que eu te deixo ai.
-Perdão?
-É, eu sei que não parece, mas eu dirijo - risos - Só sou preguiçoso demais para tirar o carro da garagem. 
-Nunca tinha conhecido alguém assim.
-Eu nunca tinha conhecido alguém com o nome Délia.
-Ui, essa você pegou pesado.
-Eu sei. 
-Aliás, você já começou a ler o livro?
-Sim, é bem legal. Mas por que você insiste em me chamar de Scrooge? Eu não tenho nada haver com aquele cara.
-Tem sim.
-Então espero voltar para casa convencido disso amanhã.
-Você já estaria se quisesse estar
-Sempre jogando com as palavras, já pensou em ser publicitária Délia? 
-Não, deixo essa com você. Então amanhã a gente se vê né?
-Total.
-Então, tchau?
-Tchau.
-Bem, o que mais eu digo?
-Eu estou com a mesma dúvida.
-Acho que eu deveria desligar ou coisa assim.
-Talvez, mas se você quiser me falar mais alguma coisa ou não sei, me contar sobre alguma coisa legal que tenha feito.
-Acho que amanhã a gente conversa melhor. 
-Tudo bem. Beijos.
-Beijos.


Beijos
S.S Sarfati

Deixe um comentário