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Já devia passar da uma da manhã mas Délia simplesmente não conseguia dormir, seu cérebro apenas não desligava. Poderia parecer bobagem, mas ficava refletindo sobre o beijo que tivera com Leonardo desde o dia em que aconteceu. Foi tão diferente: a pessoa, a situação, o momento, a maneira em que ele a tocava sempre tão delicado, a música que tocava no rádio naquele instante, o momento depois do beijo. Ele não parecia arrependido ou que queria fugir dali. Assim como ela, ele apenas entendeu que foi o que foi.
Nada é tão mágico quanto entender perfeitamente as atitudes do passado. Por tanto tempo Délia lutou em tentar mudar o que já havia passado que finalmente aceitar tudo isso era um imenso alívio em seu peito.
No dia seguinte, sábado de manhã, ele a surpreendeu mandando uma mensagem no seu celular. Não dizia nada de importante, mas foi o suficiente para ficarem trocando mensagens o resto do dia. Uma pequena parte de Délia ficou torcendo para que ele a convidasse para fazer algo naquele dia mais tarde, mas assim ele também ficou com medo de forçar a barra.
Era tão estranho para ela estar se interessando por alguém de novo, por que não havia mais como negar que ela estava se interessando por Leonardo e muito provavelmente, Leonardo por ela. Saber que o interesse era mútuo era algo revigorante, mas ao mesmo tempo assustador. Se interessar por alguém pode ser algo que te dá vida quando você não tem mais, mas também pode ser algo que te coloca no caminho da morte.
Délia tinha saído de um relacionamento sério não fazia muito mais do que três meses. Tinha sido difícil terminar e deixar tudo enterrado no passado. Tão difícil que ela nunca mais se imaginou começando de novo, mas agora, com  toda essa situação, ela se imaginava começando de novo. Talvez não ao lado de Leonardo, mas com alguém. E isso era ótimo, porque estar interessado em alguém  de novo significava que o seu último relacionamento não tinha matado ela tanto quanto ela podia imaginar.
Mas voltando seus pensamentos no Leo... Nossa, ela nunca iria imaginar que estaria chamando aquele rapaz rabugento que conheceu no ônibus de Leo, como se eles tivessem sido amigos a vida toda. Ele era um cara fantástico: inteligente, preocupado, responsável, honesto... Tudo bem, ele podia ser loiro e não fazer o seu tipo, mas era impossível não se interessar por aquele moço alto de olhos claros e ombros largos.
E o que será que iria acontecer no futuro? Não em um futuro longínquo, mas em um próximo mesmo: será que eles se veriam de novo? Será que ele a chamaria para sair mais uma vez? Se sim, como seria? Afinal, a última saída deles tinha terminado em um beijo no carro dele. Será que ele iria fingir que não foi nada? Não parecia, por que ele estava visivelmente mais fofo nas últimas mensagens que trocaram, mas nunca se sabe. Outra coisa que a preocupava é que sem dúvida Leonardo tinha sido o cara mais velho por quem ela já havia se interessado: Délia tinha por volta dos seus vinte anos enquanto Leonardo já tinha seus vinte e cinco anos, será que muita coisa mudava entre eles por conta disso?
Ela estava suada: não sabia se era por que estava tentando dormir com duas cobertas enquanto fazia 30°C lá fora ou se era por conta dos pensamentos que insistiam em mante-la acordada. Apenas decidiu levantar e beber um copo de água. Quando voltou com o copo em mãos, por força do hábito decidiu checar o celular, tinha uma mensagem dele perguntando se ela também não conseguia dormir. Lógico que ela respondeu e os dois continuaram uma agradável conversa sobre como o calor impedia eles de dormirem até que, quase que juntos, os dois adormeceram pensando se era mesmo verdade que quando você não consegue dormir é por que você está acordado nos pensamentos de alguém. 

Beijos
S.S Sarfati

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