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-Leonardo, aquela Maria Clara não vale nada! - disse Délia após dar uma garfada no seu macarrão.
-Se você quiser dizer coisas piores, está valendo. 
-Quero dizer, como você pode se envolver com uma mulherzinha daquele tipo? 
-Quer ouvir a história toda?
-Claro.
-Pois bem, volte alguns anos atrás, 2003, e você verá um Leonardo magricelo, alto, desengonçado, com um corte de cabelo horrível de 15 anos. E também verá uma Maria Clara de 15, só que com cabelos compridos, sorriso sensual e com uma capacidade de manipulação ímpar. Pois é, nós fizemos o Ensino Médio juntos. Na época ela nem sabia quem eu era, mas dígamos que eu tinha um amor platônico por ela. Todos os meninos da sala tinham. Sabe o tipo que ela era né?
-Mandona? Autoritária? Trivaca?
-Não, peituda. Ela era uma das únicas meninas do primeiro ano realmente peitudas. Isso é idiota de se falar hoje, mas na época eu tinha 15 anos. 
-Leo, eu sei disso. Apenas continue a história.
-Tá bom. E nós fizemos o Ensino Médio juntos, simples assim. Ela nunca me notou e eu nunca interagi com ela. Nós só nos conhecemos de verdade quando fui trabalhar na agência do pai dela quando eu tinha 20.
-Mas você me disse que você era estagiário até pouco tempo atrás...
-Na carteira de trabalho pode estar escrito qualquer coisa, posso estar lá como contratado que mesmo assim todos me tratavam como o estagiário "por favor, me traz um café?". O que conta realmente não é o seu cartão de vistas e sim como as pessoas de dentro te vêm. 
-Mas continue a história.
-Nós dois éramos estagiários e ela nunca falou comigo durante anos, até ela descobrir que eu era o Leonardo da sala dela em Janeiro do ano passado. Ai nos aproximamos, começou a rolar um clima e você já sabe. Eu já tinha um corte de cabelo melhor e já estava mais encorpado.
-Qual é o seu problema com figuras de autoridade?
-O que?!
-Primeiro pega a filha do reitor, depois a filha do chefe... Leo, isso é um padrão comportamental. Você deveria ir ver uma terapeuta. 
-Délia, você não entende nada disso.
-Eu sei! Mas é algo considerável, deve indicar alguma coisa e...
-Deixe-me terminar a história.
-Continue.
-Nós ficamos juntos durante cinco meses até ela começar a surtar e querer que a coisa ficasse séria.
-E você não queria compromisso?
-Délia, dá para você parar de tentar adivinhar a história?
-Foi mal, mas a sua narrativa é lenta demais para eu não tentar adivinhar.
-Enfim, não é que eu não quisesse compromisso ou que eu tivesse medo de compromisso, eu só não queria nada com a Maria Clara.
-E dizer isso a ela deve ter doído.
-Mais nela do que em mim. Eu percebi que não estava com ela pelo mesmo motivo que ela estava comigo, eu só estava com ela por que um dia gostei dela. 
-E por que um dia ela teve peitos acima da média.
-Também - risos - Como você consegue fazer tudo virar piada?
-Eu não consigo.
-Mas eu estou sempre rindo do que você fala.
-É o meu poder sobre você.
-Agora você tem um poder sobre mim?
-Sempre tive. Olha só meu nome, Délia. É um nome poderoso por si só.
-É um nome incomum.
-É diferente. E ser diferente é normal.
-Olha, se você quer conquistar um publicitário, não vai ser decorando slogans que você vai conseguir.
-E quem disse que eu já não conquistei?
-Eu comprei o The Sims 3 ontem.
-E ai jogou? Não é lindo?!
-É bem legal.
-As casas ficam lindas! As vezes eu jogo só para montar as casinhas, tem tantas opções. 
-Você não faz família?
-Não me importo com isso.
-Como você não se importa com a família? A família é o começo de tudo!
-Leo, não leve um jogo tão a sério.
-Você escolheu a sua profissão em cima desse jogo, como você espera que eu não leve a sério? 
-É diferente.
-Mas ser diferente é normal.
-O que? - risos - O que isso tem haver com esse momento?
-Nada, só me deu vontade de falar. 
-Parece que você quem decorar slogans....
-Eu sou publicitário, dá um tempo. Eu posso.
-Metido.
-Ainda sou obrigado a escutar isso.
-Eu quem conheci a trivaca da sua ex-namorada hoje, pega leve comigo.
-E isso foi ruim?
-Lógico, ela é uma trivaca. 
-Além disso, pelo fato dela ser minha ex namorada.
-Aonde quer chegar com isso Leonardo?
-Você está com ciúmes?
-De jeito nenhum!
-Está sim! Então Délia, como você se sente estando com ciúmes de mim, Leonardo Scrooge?
-Eu não estou com ciúmes.
-Está sim, admite. Vai ser melhor para você.
-Quer saber, vou embora.
-Não, você não vai.
-Sim, eu vou.
-Você prefere que eu te dê uma carona.
-Eu volto de ônibus.
-Eu não sabia que o motorista do ônibus também ia te cobrir de beijos antes de te deixar na porta de casa.
-Isso foi baixo.
-Eu tinha que atingir o ponto onde te deixava vulnerável. Mas vamos lá, você adora meus beijos.
-Eu não me importo com eles.
-Não minta para mim Délia. Você sabe que assim eu não resisto.
-Ah não?
-Continue assim e eu não vou aguentar esperar chegar na sua casa.

Beijos 
S.S Sarfati

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