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Tinha um adeus entalado no meio da minha garganta desde que nos encontramos pela primeira vez. Eu olhei para você, você olhou para mim e eu senti as faíscas explodirem dos nossos olhos e se encontrarem em um lugar comum. Eu senti cada célula do meu corpo estremecer ao saber que o contato com você estava próximo. Eu senti coisas que eu nunca imaginei sentir, inclusive aquele adeus instantâneo que você tinha nos olhos desde a primeira vez que sorriu para mim. 
Você tinha um sorriso de bom dia nos lábios e um brilho de despedida no olhar. Todas as horas de todos os dias que passamos juntos sem nunca se cansar de tentar enxergar a tristeza onde não tinha.
Então apesar de não acreditar muito em destino, em determinado momento passei a acreditar que o meu destino era ter te encontrado por alguma razão, mas que você logo teria que partir. Como todo mundo que eu conhecia. 
Aceitei bem o fato de que você não seria diferente dos demais, que você iria ser gentil comigo enquanto fosse bom para ambos e depois disso iríamos nos afastar gradativamente até o dia em que um dos dois iria dizer que tinha outras preocupações na cabeça. Ou eu iria explodir e te acusar de ter tentado curar um coração gelado as custas do desastre pessoal de alguém. Eu aceitei que estaria com você pelo tempo que desse e depois iria para outra. Eu aceitei o fim que você anunciava nos seus olhos toda vez que falava o quanto estava feliz por estar estar comigo.
Você era um pacote que não poderia ser aberto. De poucas palavras, sorrisos sinceros, toques carinhosos, mas sempre o mesmo olhar de despedida. Acho que se você não me olhasse tão distante eu teria me apaixonado por você. Sempre tão atencioso, tão gentil e bem humorado, tão engraçado e inteligente, tão maravilhoso em tantos os sentidos que facilmente se encaixaria em uma lista de qualidades ideais. 
Então quando eu percebi eu te encarava com o mesmo olhar de adeus. Eu tinha adquirido aquela nostalgia presente de você e tinha adequado a minha maneira de ser. Passei a lamentar o nosso fim enquanto comemorávamos nosso aniversário. E só quando eu percebi que eu passei a agir como você eu me dei conta de quanto tempo estávamos juntos e como o fim que sempre esteve conosco estava verdadeiramente longe. Em como havia a distância real e a distância que eu imaginava que era real.
Eu percebi que por saber que você iria partir eu aproveitei cada segundo do tempo que passamos juntos por que eu sabia que em breve você seria uma memória boa demais para ser esquecida pelo tempo ou por conta do que viesse depois. Não importava quem viesse a ficar comigo no final, quem seria o último, eu tinha absoluta certeza que ninguém jamais seria tão bom quanto você. Ninguém seguraria a minha mão como você e ninguém me amaria como você.
Eu me perguntava todos os dias como algo que parecia estar tão no final estava tão bem, mas você me conhece, eu questiono demais, passei a questionar seus motivos, quem você era, quem você queria ser, que eu era, o que seria de nós até um momento em que todas as dúvidas me sufocaram e me fizeram  gritar e eu caí. Eu caí em cima de você e por nenhum momento você hesitou em me segurar. Você me segurou quando eu queria que você me deixasse apodrecer como as rosas que você me dava ocasionalmente. Eu encarava a beleza daquelas rosas todas as vezes que você aparecia com elas por que eu imaginava que na próxima vez elas viriam acompanhadas de um adeus e eu não seria mais capaz de suportar o perfume das rosas. Eu teria nojo de conversar com alguém que usasse o mesmo perfume que você e evitaria ouvir seu nome. Achei que você deixaria acabada. Mas você não fez. Você ficou. Você esperou eu ficar bem para agir normalmente comigo. Você desafiou qualquer previsão que eu poderia ter feito sobre você ou nós. Você me fez voar ao dizer que eu estava errada e que não estava sempre certa. Que eu não seria capaz de adivinhar tudo. Você tirou o poder das minhas mãos sem nunca gritar me acusando de ser controladora. Você nunca gritou comigo. 
Nós terminamos, mas não doeu, não machucou, ninguém chorou ou reclamou. Acabou. E quando eu te disse isso e você apenas assentiu confesso que me frustou um pouco uma vez que eu tinha uma cena toda de despedida na minha cabeça: você ficaria confuso, eu também, eu reconsideraria, mas diria que não tinha mais jeito. Você diria que eu estava ficando louca e eu apenas diria que eu adorei te conhecer e eu descreveria para você como ter você ao meu lado me ajudou. Você acharia bobagem e sairia andando. Na verdade você só sorriu para mim e me beijou. Nada dramático, como se eu fosse te ver no dia seguinte, mas eu não ia. Não ia te ligar e sabia que você também não iria. Você até perguntou se eu queria carona. Aceitei. Na saída apenas me abraçou e disse "até logo". Foi a única vez que você não tinha um brilho de despedida no olhar e então eu pude entender que você nunca quis realmente se despedir de mim ou de nós, tudo o que você queria era se despedir de si, mesmo que isso nunca fosse possível. Você tentava se evitar se afundando na vida de alguém.

Beijos
S.S Sarfati

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