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O relógio marcou duas horas em ponto e Sami respirou fundo,
era oficial: ele não viria. Noah era a pessoa mais pontual de todas as pessoas
pontuais que ela já conheceu na vida e ele nunca havia chegado atrasado, nem
uma única vez. A única explicação é de que ele não viria que ele iria dar um
bolo nela. Uma pequena vingança por ela ter terminado o namoro. Ela explicou
uma dúzia de vezes os motivos que levou ela a fazer aquilo e explicaria mais
mil vezes se fosse necessário. Ela explicou a ele quando eles se encontraram no
aniversário dele e ela explicou quando encontrou a irmã dele na padaria na
última vez que esteve na cidade. Ela explicava para a mãe toda vez que ela
perguntava por que os dois não estavam mais juntos. E isso era quase que
semanalmente.
Aliás, se eles se encontraram no aniversário dele qual era o
problema de se encontrarem agora? Era quase dia de Natal e no Natal geralmente
as pessoas devem ser mais legais com as outras por conta daquele clima natalino
e tudo mais. Se bem que ela havia partido o coração dele em Fevereiro de tal
maneira que talvez até o Papai Noel perdoasse caso ele fizesse algumas
malvadezas com ela... Se bem que ela estava associando isso a um sentido
totalmente oposto do original... Foco, foco, foco. Pessoalmente não acho que
ele seria capaz de simplesmente não aparecer em um encontro com ela sem uma boa
explicação, ele ainda era louco por ela. Vocês viram quando ele chamou ela de
princesa ontem a noite? Um cara que não queria aparecer no encontro não faria
isso. E era nesta ideia que Sami estava tentando se concentrar, mas a ideia que
ele queria apenas torturá-la como vingança borbulhava ainda mais alto. Alguns
podem dizer que não é do feitio dele, outros podem dizer que as pessoas mudam.
Eu acredito que as pessoas mudam, mas nem tanto.
Eu já disse para vocês que sou apenas narradora desta
história e só sei o que de fato irá acontecer no momento em que acontece e nem
um segundo antes, então, por favor, pare de me olhar como se eu soubesse o
motivo do atraso dele. Acredite, se eu pudesse fazer com que ele chegasse logo
aqui eu faria: o fato de ser narradora não me impede de estar brutalmente
curiosa sobre a conversa deles.
-Desculpa te deixar esperando, mas minha mãe ficou muito
feliz em me ver e não queria me deixar sair – disse Noah ao se aproximar de
onde Sami estava sentada – senti saudades.
-Eu também senti saudades suas Noah – disse ela envolvendo-o
em um terno abraço – Achei que já tinha me esquecido do som da sua voz
pessoalmente.
-Eu acho que minha voz é sexy demais para você esquecê-la em
menos de seis meses – brincou ele. E ele tinha razão: a voz dele tinha um
rouquinho muito sexy para ser esquecido em quatro meses. Especialmente depois
das coisas que ele havia dito a ela no seu ouvido na última vez que se
encontraram, em Agosto.
-Você ainda toma sorvete ou tem medo de estragar sua voz?
-Geralmente não, mas por você eu faço uma exceção.
-Eu fico lisonjeada.
-E esse era o objetivo. Então – disse ele se dirigindo ao
caixa – Ainda gosta de misturar sorvete de chocolate e creme?
-Gosto, mas você não tem que pagar.
-Eu sei que não, mas eu quero – disse ele dando uma piscadela
para ela.
-Você nunca perde o charme, não é?
-Eu confesso que é difícil mantê-lo, mas eu tento mantê-lo
mesmo assim. – ela não respondeu. Ela apenas deu um sorriso tímido e ficou levemente
corada enquanto ele ficava feliz por ter atingido seu objetivo.
***
Sami e Noah, apesar de manterem certo contato, tinham muito
que conversar pessoalmente por isso decidiram caminhar um pouco e ver como as
coisas se desenrolavam:
-Então, como foi o primeiro ano?
-Na verdade, muito melhor do que eu imaginava. Não bombei em
absolutamente nada, nem em Cálculo.
-Eu sabia que você iria me deixar orgulhosa.
-Eu até consegui aprender um pouco mais de violão.
-Não brinca, eu adoro o som do violão!
-Eu sei, eu até gostaria de conseguir mostrar algo para você,
mas não aprendi o suficiente para te poder te mostrar algo.
-Mesmo assim, isso é ótimo! Parabéns Noah.
-Obrigado. E você, como foi seu primeiro ano?
-Foi bom. Quero dizer, foi melhor do que o primeiro ano do
Ensino Médio – disse ela rindo.
-Difícil algo pior do que o primeiro ano do Ensino Médio.
-Eu aposto que o seu primeiro ano do Ensino Médio foi melhor
do que o meu.
-Ah, é? Por que diz isso?
-Bem, ouvi dizer que você era o terror das festas de quinze
anos.
-Isso é mito. Eu sabia me divertir, só isso.
-E como era?
-Eu era animado. Bastante.
-Animado como?
-Ah, eu fazia uma baguncinha aqui e ali, nada sério. Sou um
rapaz sério, sempre fui.
-Disso eu sei.
-Sabe mesmo?
-Sei sim.
-Então por que você não me trata como um Sami? Eu entendi
quando você disse que não dava mais para nós ficarmos juntos, mas a verdade é
que a gente nunca parou de se falar, é meio como se nós nunca tivéssemos
terminado. Sempre damos um jeito de nos ver... Seja sincera, qual a diferença
do que nós temos para um namoro?
-Eu não sei.
-Ótimo, porque eu também não faço idéia – pequena pausa – Eu
só sei que gostei de namorar com você. Foram bons onzes meses ao seu lado – ela
ficou sem resposta, de novo. Não entendia por que, mas naquele dia para quase
todas as menções que ele fazia sobre o relacionamento que eles tiveram ela
ficava sem resposta. Talvez essa fosse só a maneira dela reagir à culpa que
sentia, não que pretendesse admitir que por algum momento ela não estivesse
totalmente certa sobre o rumo que deu ao relacionamento deles. Ela não estava.
Ela não era do tipo de pessoa que está sempre em busca de um relacionamento,
ela sabia viver sem alguém ao seu lado, mas ela sentia falta dele. Não era falta de ter alguém do seu lado, mas de ter o Noah ao seu lado. E era doloroso para
ela admitir uma coisa dessas.
-Na verdade, foram ótimos
onze meses ao seu lado – disse ela educadamente corrigindo o rapaz.
-Se você diz – ele fez uma pequena pausa – Como foram as
coisas lá para você? Digo, tinha uns caras legais por lá? – disse ele entrando
em um assunto bastante delicado para ambas as partes.
-Bem, tinha sim. Alguns.
-E você saiu com algum deles?
-Eu até tentei.
-Não deu certo?
-Não.
-Por quê?
-Nenhum deles era você – disse Sami roubando um beijo
apaixonado do rapaz que prontamente contribuiu a expressão de paixão da moça –
Noah, me desculpe – disse ela se afastando dele – eu simplesmente não deveria
ter feito isso. Eu nem te perguntei se você estava em um relacionamento ou
coisa parecida.
-Eu não estou.
-Mesmo assim.
-Não tem problema. Eu retribui, não retribuí?
-Retribuiu – disse ela corando – Desculpa Noah, mas eu não
faço idéia do que eu estou fazendo. Sinceramente, não faço nem idéia do que eu
estou pensando ou muito menos falando, mas eu acho que nós devemos resolver
nossa situação.
-E como você sugere fazermos isso? – disse ele sentando-se em
uma muretinha que tinha no caminho que eles percorriam e puxando-a pela mão
afim que ela se posicionasse na sua frente, quase que instintivamente ela
apoiou os braços em volta do ombro dele enquanto ele abraçava sua cintura.
-Eu gosto de você e você gosta de mim, não faz sentido
estarmos separados. Eu achei que quase um ano longe de você já teria me feito
parar de gostar de você, mas não. Pelo contrário, só me fez gostar mais de
você.
-Então você está me dizendo que você quer voltar? Você está
me perguntando se eu quero voltar com você?
-Na verdade eu estou perguntando se tem alguém na sua casa.
-Acho que só minha irmã, minha mãe e o pai do Leo saíram logo
depois de mim.
-Você se importa se nós formos para lá?
-De maneira alguma – respondeu o rapaz ainda que sem entender
nada.