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Não devia passar das dez e meia: Leonardo já havia se trancado no quarto e se jogado na cama após um bom banho quente, apesar de ser Dezembro e não haver necessidade alguma de banhos quentes em Dezembro quando se vive no Brasil. Não havia demorado por conta do breve encontro com Délia, deve ter chegado em casa pouco antes das dez. Digam o que quiser, mas considerando que eles levaram quase uma hora para se encontrar e que ele saiu da rodoviária umas nove, sim foi um breve encontro. 
Ele de fato pensou em comentar alguma coisa sobre o livro, sobre Délia ou sobre os dois com sua mãe, mas desde que ela sofrera o acidente alguns anos atrás, ele havia perdido o hábito de comentar sobre sua vida com sua mãe ou com qualquer outra pessoa. Se vendo com nenhuma opção além daquilo, Leonardo apenas se enrolou em suas cobertas amarelas, fechou os olhos e dormiu. 
                                                                         ***
O som da respiração ofegante do rapaz ecoava o quarto. Sentia o suor escorrer a testa e pingar nos seus olhos azuis. Sua camisa verde parecia encharcada e sua cama estava revirada parecendo que Leonardo tinha passado a noite toda lutando com as cobertas. Que horas que eram? Ele esperava ansiosamente que fosse algo por volta das seis para que ele não fosse obrigado a voltar a dormir. Encarou no relógio que tinha na cabeceira da cama e viu: 00:59
Então ele só havia dormido pouco mais de duas horas? Por que ele sentia que aquele pesadelo todo tinha durado uma noite toda? Seu corpo estava moído e molhado de tanto que havia suado, mas apesar disso não iria encarar outro banho de jeito nenhum. Tudo o que ele queria era esquecer o que havia transitado sua mente a poucos instantes. 
Acendeu o abajur, tirou a camisa, arrumou um pouco as cobertas e deitou-se por cima dela. Estava pronto para passar o resto da noite encarando as paredes azuis que tinha, ele não iria voltar a dormir. Não tão cedo. Quando se lembrou do livro de Délia: estava próximo ao abajur. Leonardo se esticou todo, mas conseguiu pega-lo sem grandes esforços. Por alguns instantes encarou a capa do livro: ele ia mesmo ler o livro que uma total e completa estranha havia emprestado? Por que ele iria fazer isso? Por um instante Leonardo arrependeu-se de ter pensado em Délia como uma estranha, eles já haviam jantado juntos e trocado os números de telefone. Total estranhos não fazem isso. 

Não, eles não estavam "saindo" e era ridículo passar, nem que por um só instante, essa ideia na cabeça dele ou de qualquer um que pudesse estar acompanhando a situação. Leonardo não era o cara mais namorador do mundo, mas era loiro com olhos azuis então algumas meninas simplesmente se apaixonavam por ele em uma noite. Era simples, divertido e indolor. E ele adorava isso. Tanto por que ele não tinha feito esforço algum nos breves relacionamentos que teve anteriormente, não que a sua relação com Délia fosse algo próximo de um relacionamento. Tanto por que seus últimos 'breves' relacionamentos que teve de duas uma: ou ele havia conhecido no trabalho ou era alguma amiga de um dos seus amigos. Simples assim. Nem no Ensino Médio ele era do tipo que corria atrás de oportunidades para conhecer as garotas, não que ele acreditasse em alma gêmea ou que as melhores coisas vêm de repente, tanto que de tudo o que veio na sua vida de repente nada havia sido realmente gratificante, ele só nunca se importou em conhecer alguém. Ele fazia voos solos e era feliz assim, então ele permaneceria assim. 
E sim, assim como você, Leonardo não entendeu o que havia levado-o a refletir sobre seus relacionamentos passados. Era como se tivesse chego um fantasma carregando seus relacionamentos passados para sua mente, cheios de lembranças que ele preferia esquecer. Fantasma dos Relacionamentos Passados, isso existe? Antes que mais algum fantasma ou devaneio pudesse invadir sua mente, Leonardo focou na palavras que na primeira página se encontravam: 

"Para começar, digamos que Marley tinha morrido. Neste particular, não pode haver absolutamente a menor dúvida; a ata dos seus funerais havia sido assinada pelo vigário, pelo sacristão, pelo homem da empresa funerária e pelas pessoas que haviam conduzido o féretro. Scrooge também a tinha assinado. Ora, Scrooge era um nome bastante conhecido na Bolsa, e sua assinatura era um documento valioso, onde quer que ele a colocasse. O velho Marley estava tão morto como um prego de porta. "

Scrooge. O nome que Délia havia chamado-o repetidas vezes no final de semana e enquanto dividiam uma pizza. Ele podia estar nas primeiras linhas da primeira página, mas ele não parecia um sujeito muito agradável. Que raios os dois poderiam ter em comum?  

Beijos
S.S Sarfati

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